A movimentação de operários na área de estocagem, bem como o monte de cor escura e reluzente que se avoluma no pátio, dão mostras de que o Porto de Natal se prepara para uma nova fase. Dentro de um mês, as operações de exportação no terminal marítimo – antes restrito ao escoamento de produtos, como frutas e camarão – se abre para um novo mercado: o de minério de ferro. O metal, que teve pujança na década de 1980 na economia potiguar, retoma as atividades agora por outra via. A partir da segunda quinzena de setembro, previsão para a saída da primeira carga, a Susa Minerações passará a usar o terminal para enviar aproximadamente 120 mil toneladas, em refino e à granel, somente este ano, para a China.Adriano AbreuPrimeira remessa do produto já está estocada no Porto de NatalPrimeira remessa do produto já está estocada no Porto de Natal
A empresa instalada em Cruzeta, com participação de um grupo indiano , tem um plano de exportações que prevê para 2011 três carregamentos com 40 mil toneladas cada. Para 2012, a previsão é de seis carregamentos com cerca de 65 mil toneladas cada. Até atingir, a partir de 2013, 1 milhão de toneladas ao ano, com saídas mensais. “Tudo isto está condicionado ao projeto de dragagem e ampliação do Porto de Natal”, diz o diretor operacional da Susa Mineração José Fonseca Rabelo de Oliveira.
O Diretor-Técnico Comercial da Companhia das Docas do Rio Grande do Norte (Codern) – responsável pela administração do porto – Hanna Safieh, explica que o fluxo não pode ser maior devido às limitações para atracação de navios. Para receber mais de uma embarcação – do tipo Panamá, com capacidade para 65 mil toneladas – é necessário viabilizar o projeto de construção de um segundo porto na margem esquerda do Rio Potengi. “A nossa dificuldade é ter uma retroárea reduzida, o que comporta apenas um navio por mês”, diz.
A preferência pelo Porto de Natal representa economia nos custos de operação e transporte, explica Fonseca. Até 2009, outra mineradora em operação no estado, a Mhag, usava o Porto de Suape, em Pernambuco, para escoar sua produção para o exterior. “Há uma melhor localização geográfica de Natal. A distância até Pernambuco demandaria maior investimento de tempo e capital, aqui ganhamos nos dois pontos, além de mostrarmos nossa confiança no projeto de expansão do Porto”, disse Fonseca. A produção vem de carretas de Cruzeta para Natal.
O que é considerado um “voto de credibilidade”, para o grupo de capital brasileiro-indiano, para a direção da Codern, é o início de uma operação que irá movimentar a economia do estado. “Teremos crescimento no número de postos de trabalho nas minas, no setor de transportes, manutenção, até a geração de receita para os operadores portuários, o próprio Porto, além de incrementar a arrecadação do Estado”, observa Safieh. A saída da embarcação depende da construção de um carregador de navio – equipamento usado para levar os blocos de ferro da esteira até o porão do navio. O equipamento é construído pela operadora portuária Superservice e a mineradora e terá capacidade de 1,2 mil tonelada por hora.
Exportação deve estimular a atração de novos investimentos
O início das operações para exportação do minério do ferro a partir do próximo mês, via Porto de Natal, aumenta o potencial de incremento na geração de renda e empregos do Estado, mas não é só isso.
Na avaliação do professor de Comércio Exterior da UnP e da Estácio, Otomar Lopes Cardoso Júnior, o novo uso do terminal demostra a capacidade de adaptação a diferentes demandas, o que contribui para a atração de novos mercados e investimentos. “Essa versatilidade abre um um canal a mais a ser explorado e que fortalece a economia do Estado”, disse.
A expectativa é que investidores de outros segmentos – como o tungstênio e o granito se voltem para a capital – como porta de saída de produção para outras partes do mundo. O grupo indiano que tem participação na Susa Mineração prevê ainda para este ano o início de operações para a exportação de caulim extraído de Currais Novos, antecipou o diretor operacional da Susa Mineração, José Fonseca Rabelo de Oliveira.
Por ser de pequeno porte, em relação a portos como o de Santos, São Paulo, lembra Otomar Lopes, o tráfego é mais rápido, impedindo os eventuais congestionamentos de embarcações na área de embarque e desembarque que acabam por encarecer os custos de produção.
Para Fábio Rodamilans, coordenador de recursos minerais da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (Sedec), o primeiro carregamento insere o Rio Grande do Norte na rota internacional de exportação de minérios e deve atrair investidores de grande porte para o Estado.
“Natal terá a maior capacidade de operação para abastecimento do que os Portos de Suape (PE) e Pecém (CE)”, avalia o executivo da Susa, José Fonseca Rabelo de Oliveira.