O Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS), criado em 2007 para aplicações em projetos de infraestrutura, rendeu menos do que o esperado em 2010. A rentabilidade foi de taxa de referência (TR) mais 5,78%, enquanto o objetivo do fundo é ter no mínimo TR mais 6%, padrão do FGTS. O percentual também é menor do que o obtido em 2009, de TR mais 6,6%.Segundo o vice-presidente de ativos de terceiros da Caixa Econômica Federal, Marcos Roberto Vasconcelos, o resultado não preocupa a instituição – gestora e operadora do fundo -, pois a carteira de projetos é voltada para investimentos de longo prazo. “Nós compramos dívidas ou ações de empresas para auxiliar investimentos de longo prazo no setor de infraestrutura. O tempo de maturação dos investimentos é de três a quatro anos”, diz. O fundo completou, no fim de 2009, três anos e meio.
Segundo o executivo, apesar de ser necessário apresentar relatório anual, ele é inadequado para analisar a rentabilidade do fundo. “Boa parte dos investimentos é para o desenvolvimento da empresa, num estágio pré-operacional. Só quando a empresa chega na fase operacional, começamos a ter as receitas”, diz. Segundo ele, é esperada uma perda de valor inicial, e a rentabilidade acima de TR mais 6% deve ser ultrapassada ao longo do tempo. “Temos que esperar a carteira de investimentos maturar. Em três a quatro anos, vai diminuir cada vez mais o volume de novos investimentos.”
Para Artur Henrique, presidente da Central �?nica dos Trabalhadores (CUT), entidade que participa do Conselho Curador do FGTS, o foco hoje não é a rentabilidade do fundo, apesar de ser essencial não haver prejuízo. “Pensamos o FI-FGTS para investir em projetos que gerassem emprego e renda. Não foi feito para dar resultado no curto prazo, nem possui um caráter só econômico”, diz.
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A piora da rentabilidade de 2009 para 2010 tem a ver com a composição da carteira de projetos. Segundo Vasconcelos, logo no início os investimentos estavam mais voltados para instrumentos de dívida, que são mais rápidos de analisar e aprovar, e dão um retorno mais rápido. As propostas de participação nas empresas começaram a ser aprovadas a partir de 2009, com um volume mais concentrado em 2010 e, agora, em 2011.
“Em 2009, a parte de dívida representava aproximadamente 85% do total investido pelo FI-FGTS. Em 2010, o equity [compra de ações] já chegava a 35% dos investimentos”, diz o executivo. O impacto inicial dessa mudança foi uma rentabilidade menor, já que a compra de ações tem retorno mais demorado.
Há um ano, a Caixa afirmou ao Valor que a estratégia para elevar a rentabilidade do fundo em 2010 seria direcionar seus recursos para a compra de debêntures privadas e reduzir a aquisição de participação de empresas. Vasconcelos afirma agora, porém, que essa não pode ser a regra. “Se temos um mandato de médio e longo prazo, temos que avaliar o que vai dar maior retorno no médio e longo prazo.”
Em 2010, O FI-FGTS investiu R$ 3,78 bilhões, 75,6% dos R$ 5 bilhões previstos para o ano. Para 2011 foram autorizados mais R$ 4,3 bilhões. O fundo tem mais cerca de R$ 6 bilhões para serem integralizados, considerando o limite de 80% do patrimônio do FGTS.
O número de ativos do fundo chegou a 29, sendo que 17 são participações e fundos e 12 são instrumentos de dívida.
O setor de energia foi o que obteve maior volume de investimentos: R$ 2 bilhões. Segundo Vasconcelos, o resultado é resposta à maior demanda de projetos. “�? um setor que está mais estruturado e apresenta menor risco”, diz ele. Saneamento e hidrovias, por outro lado, foram citados como áreas de maior dificuldade para o avanço dos investimentos. De acordo com a análise da Caixa, faltam bons projetos nos dois setores. “�? possível contar nos dedos de uma mão o número de projetos que recebemos de hidrovias.”
Uma das metas para 2011, que ainda não foi alcançada, é a assinatura do primeiro Fundo de Investimentos em Participações (FIP) Saneamento. Lançado no fim de 2008, o FIP prevê a participação dos recursos do FGTS para investimento em empresas públicas de saneamento, desde que seja garantida a participação do fundo no controle da empresa e traçado um programa de melhoria da gestão.
Segundo Vasconcelos, o contrato deve ser assinado em breve e há outro adiantado para assinatura no primeiro semestre de 2012. Segundo ele, a dificuldade em concretizar esse plano deve-se à complexidade das negociações, que envolvem a limitação da liberdade de gestão do atual controlador da empresa.