Os enormes navios cargueiros, capazes de carregar milhares de contêineres ou porões lotados de açúcar ou soja, deixarão de ser as grandes estrelas do Porto de Santos a partir da próxima quarta-feira. Nesse dia, e até domingo que vem, a primadona do maior porto da América Latina será uma embarcação que não é conhecida por sua capacidade de carga ou passageiros, mas pela beleza e pelo papel que desempenha, como principal representante da Marinha do Brasil no exterior, o navio-veleiro Cisne Branco.
A embarcação ficará atracada no Cais da Marinha, entre os armazéns 27 e 29. E, de quinta a sábado, das 14 às 17 horas, estará aberta ao público. A entrada será gratuita.
Com 32 velas, o Cisne Branco foi construído com base nos projetos dos últimos clippers, navios longos e estreitos fabricados no século passado, com a missão de superar a lentidão das antigas embarcações com propulsão à vela. Os clippers foram planejados para carregar pequenas cargas ou volumes, além de passageiros.
O Cisne Branco foi construída na Holanda para participar da travessia comemorativa dos 500 anos de Descobrimento do Brasil. Sua viagem inaugural começou em 9 de março de 2000, em Lisboa, Portugal, e terminou em 22 de abril no litoral da Bahia, em Porto Seguro. O trajeto foi o mesmo feito pelo navegador Pedro Álvares Cabral em 1500.
Quem viaja em veleiros como o Cisne Branco garante que a experiência é inesquecível. É o que afirma o diretor-presidente da Praticagem de Santos, Fabio Mello Fontes. Ele esteve a bordo do navio-veleiro Guanabara por um mês, na época em que era aluno da Marinha. No Cisne Branco, Fontes atuou como prático, sendo responsável por manobrar a embarcação. “É um navio confortável e moderno, que guarda a tradição dos veleiros do século 19. O contato com a natureza, a navegação ao vento, quem fez (a viagem) nunca esquece. Podem passar 30 ou 40 anos que sempre vai lembrar”, afirmou o prático mais antigo da região.
O desenho do casco, as velas (com um total de 2.195 metros quadrados) e o conjunto de cordas que as movimenta são algumas das características do veleiro que deverão chamar a atenção dos visitantes, afirma Fontes. “É o navio mais bonito da Marinha do Brasil. É uma obra prima de engenharia”, observou.
Características
Com 76 metros de comprimento, o Cisne Branco viaja, na maior parte do tempo, graças à força do vento. O motor é utilizado apenas quando as condições climáticas são desfavoráveis ou em situações específicas, como na entrada e na saída dos portos.
Segundo o capitão-tenente Rogério Almeida Gomes Ferreira, um dos 52 integrantes da atual tripulação da embarcação, o veleiro atinge maior velocidade, de 17,5 nós (31 km/h), quando está navegando somente com as velas.
Para o militar, um dos diferenciais do Cisne Branco é o trabalho manual e em equipe realizado pelos oficiais. “Os cabos do convés são laborados manualmente e a manutenção dos acessórios do convés, também, o que dá bastante trabalho. Normalmente, a tripulação toda se reúne em um esforço comum. Em outros navios, o trabalho costuma ser compartilhado”, ressaltou.
Nesse sentido, Ferreira explicou que, no processo de seleção da tripulação, é feito um teste de subida no mastro – os oficiais precisam subir lá para manipular as velas. O mastro grande tem 46,6 metros de altura, o equivalente a um prédio de aproximadamente 15 andares. “Utilizamos um cinto de segurança para subir e, já na seleção, eles verificam se a pessoa tem medo de altura”.
O conforto e a moderna tecnologia do veleiro foram destacados por Ferreira. Segundo o capitão-tenente, todos os tripulantes ficam em camarotes com banheiro. “O veleiro conta com GPS e carta digital, contrastando com a manobra que era feita antigamente”. O navio não é todo de madeira: o casco e o mastro são de aço. Apenas o convés é em madeira.
Curiosidades
Legítimo representante do Brasil no exterior e utilizado na formação de oficiais e praças, o Cisne Branco mantém tradições navais antigas e curiosas. Uma delas se refere a uma moeda de 100 réis, de 1936, com o busto de Almirante Tamandaré (patrono da Marinha), que foi doada pelo almirante-de-Esquadra Arlindo Vianna Filho (chefe do Estado-Maior da Armada em 2000, quando o Cisne Branco foi incorporado à Marinha). Ela está cravada sob o pé do mastro principal. Uma réplica está fixada na área interna do veleiro.
“A moeda faz referência a uma lenda grega, em que uma moeda era utilizada como pagamento a figura mitológica, que fazia o transporte das almas dos tripulantes ao paraíso”, explicou Ferreira.
O oficial citou ainda que o veleiro navega com uma imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança, semelhante à que o navegador português Pedro Álvares Cabral trouxe em suas caravelas na viagem de Descobrimento do Brasil, em 1500. “A réplica foi doada ao navio por portugueses”, explicou o capitão-tenente.