A armadora alemã Hamburg- Süd anunciou a “racionalização” de seus serviços nas rotas entre o Norte da Europa e o Leste do Mediterrâneo. Na prática, a empresa cancelou umalinhade navegaçãoe ajustou outra para incluir em seu cardápio o que chamou de “portos-chave” no continente europeu. A medida acompanha um pequeno movimento de crise no setor da navegação, ao qual o Brasil pode não passar incólume.Em comunicado distribuído à imprensa, a Hamburg-Süd informou que as medidas são umaresposta a “condições desfavoráveisdecomércio”. A decisão denota o difícil momento por que passa a navegação neste ano. A turbulência foi prevista pela armadora em seu balanço anual, divulgado em abril, que contém planos e projeções para o ano. No documento, a companhia deixa transparecer preocupação com a conjuntura econômica global, citando a crise financeira na Europa, o vazamento nuclear no Japão, desastres naturais na Austrália e conflitos no mundo árabe, em especial no Egito e na Síria.
Os alemães da HamburgSüd não foram os primeiros a tomar medidas restritivas neste ano. Alegando o mesmo motivo, somado à “negativa situação de mercado vigente na rota transpacífica”, a chilena CSAV também vem suspendendo serviços. No mês passado, cancelou a ligação entre Índia, Sudeste Asiático, China e a Costa Oeste dos Estados Unidos. Na semana passada, cortou a rota entre o Extremo Oriente e o Mar Mediterrâneo.
No que tange às rotas de navegação que têm escala no Brasil, nenhuma modificação foi efetuada até aqui. As escalas em portos brasileiros parecem ir de vento em popa. Um indicativo são os dados do Porto de Santos, o maior do País.
Segundo a Codesp, gerenciadora do complexo, houve 1.120 escalas de navios portacontêineres de janeiro a maio deste ano, contra 999 no mesmo período, em 2010 ­ crescimento de 12,1%. Há, inclusive, um acordo sendo costurado entre a CSAV, a francesa CMA CGM e a italiana MSC, anunciado pela primeira.
O contrato entre as partes está sendo redigido e pode ser divulgado a qualquer momento. Fato relevante comunicado pelos chilenos no último dia 29 destacou o interesse na associação.
As três armadoras pretendem atuar juntas no transporte de contêineres da Ásia até a África, o Brasil e o Mediterrâneo, da costa Oeste da América do Sul (Oceano Pacífico) até o Norte da Europa e da Costa Leste da América do Sul (Oceano Atlântico) ao Oriente Médio.
REFLEXOS NO BRASIL
O corte de linhas de navegação pelo mundo pode ocorrer também no Brasil, acredita o diretor da Faculdade de Ciências Administrativas, Comerciais, Contábeis, Econômicas e Marketing da Universidade Metropolitana de Santos (FacceUnimes),HélioHallite. Estudioso desse mercado, Hallite credita sua preocupação à pequena participação do Brasil no mercado de navegação em torno de 2% do comércio global. A isso, somase o decréscimo nas trocas comerciais com regiões que atravessam forte crise, como o mercado europeu, principal alvo dos cortes de linhas de navegação.
“Se houver redução substancial das relações (comerciais) com essa região (Portugal, Espanha e Itália), pode haver cancelamentos de linha no Brasil, sim”, argumentou. Para o especialista, o Brasil deve monitorar o mercado e se preparar para esta possibilidade, a despeito das ações tomadas neste ano para melhorar a liquidez de países em dificuldade, como é o caso da Grécia e de Portugal. Ele chama a atenção também para outro fator: a escolha de portos concentradores em detrimento dos demais.
“Já foiincorporada a necessidade de otimização de rotas. Não se para mais em porto ocioso ou com problemas logísticos. Que isso sirva delição paranós. Os armadores estão preferindo portos hub (concentradores de esca- las de navios) ou feeder (distribuidores de carga)”, disse o acadêmico.
CONTRAPONTO Para o vice-presidente-executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma), Roberto Galli, observa-se uma retração no mundo, à qual as operações nacionais estão alheias. “Aqui ocorre o contrário. As empresas estão se expandindo”, definiu.
Galli classificou como “normal” o fato de as empresas “otimizarem meios flutuantes”, mas diz não ver motivo para preocupação por ora. “Quando houve retração em 2009, caíram os volumes, mas não sentimos os impactos no Brasil. Temos um mercado interno forte”, sentenciou.